segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Candidatos usam as ferramentas da internet para conquistar os eleitores


Contam até mesmo com perfis falsos para intervir na rede e buscar popularidade entre os seguidores

Ricardo Taffner

Mais um político está te seguindo no Twitter? Alguém te convidou para fazer parte do grupo de um candidato na internet? Um comentário que fez em um blog foi prontamente respondido por dezenas de apoiadores furiosos? Se isso está ocorrendo, você virou mais um alvo dos especialistas em redes sociais das campanhas eleitorais. Dois anos após a eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, com um desempenho virtual de fazer inveja a qualquer político, a web continua sendo uma promessa nas disputas brasileiras.

Livros, manuais, cursos e workshops. De tudo tem sido feito para se ensinar como fazer os candidatos bombarem na rede. As estratégias são aplicadas com o objetivo de cooptar o maior número de eleitores, e de votos. Mas atenção, nem tudo é real. Perfis falsos, números de seguidores inflados, flash mobs* estratégicos e discussões planejadas são algumas das ferramentas usadas pelas equipes virtuais dos candidatos. A atividade se profissionalizou e diversas empresas oferecem os serviços.

Basta fazer a pesquisa em um site de buscas para descobrir algumas “soluções” para popularizar o nome de um candidato na internet. O site Marca Vista Marketing na Web promete aumentar o número de seguidores no Twitter pelo valor unitário de R$ 0,40. Mas a contratação só pode ser feita pelo mínimo de mil seguidores. Para tanto, a empresa envia um formulário a ser preenchido com o perfil do público alvo desejado. “A gente faz uma pesquisa dos concorrentes para avaliar o cenário e do tipo de pessoa que interessa ao cliente”, informa o atendente, por telefone. O negócio é discreto, com a promessa de que ninguém da rede suspeitará sobre a forma de captação.

Pacotes
O site uSocial é um dos mais famosos na oferta desse tipo de serviço. Os pacotes são formados de acordo com as pretensões do candidato. Para adicionar mil seguidores em sete dias na conta do cliente o custo é de US$ 87, equivalente a R$ 152,77. Para se conquistar 100 mil seguidores é preciso ter mais tempo, 365 dias, e dinheiro, US$ 3.479, ou R$ 6.109,12.

Um especialista em campanhas no Distrito Federal explica como funcionam as estratégias eleitorais na rede mundial de computadores. Ele já prestou serviços para políticos brasilienses e prefere não se identificar. Segundo o profissional, as ações são divididas em duas etapas: monitoramento e intervenção.

Na primeira fase, são utilizados programas para identificar onde o nome do candidato é citado. Alguns buscadores automáticos, como o scup, fazem o levantamento nas redes sociais. O site cobra de R$ 500 a R$ 4 mil por mês, dependendo do volume a ser pesquisado. A navegação é simples. Basta cadastrar a palavra-chave desejada e a página retorna em tempo real todas as ocorrências. Uma equipe também trabalha no monitoramento de endereços mais específicos. “Fazemos a varredura permanente de 130 sites e blogs que mais interessam aos políticos de Brasília”, diz o especialista.

A segunda etapa é mais delicada. Depois de identificados a notícia ou o comentário sobre o candidato, pode ser necessário intervir. Essa tarefa é executada por dois tipos de “internautas”. “Pelos militantes voluntários, que atuam de forma orientada e planejada, ou por uma equipe contratada para movimentar a rede com perfis falsos”, afirma o marqueteiro. Segundo ele, é possível criar personagens na web, os chamados fakes, sem levantar suspeitas. “Temos personalidades famosas no Twitter e no Facebook que dialogam com um grande número de usuários.”

A criatividade pode ir além. Em certas ocasiões, os analistas de redes sociais criam verdadeiros debates nos espaços reservados para comentários dos blogs e sites noticiosos. Tanto os textos a favor quanto os contra são elaborados por uma mesma pessoa ou um mesmo grupo, que posta em perfis diferentes para demonstrar a “naturalidade” da troca de argumentos. “É preciso ser muito sutil para não ser desmascarado”, ensina outro especialista. Para encobrir os rastros, usam-se ferramentas para mascarar o endereço IP (internet protocol) do computador, que permite identificar a origem do acesso.

*Flashmobs: Manifestações rápidas e inusitadas de um grupo de pessoas em local público. A ação é combinada geralmente pela internet. Para causar mais impacto, as pessoas deixam o local na mesma velocidade com que chegaram.

Publicado originalmente no Correio Braziliense - 31/07/2010

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